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Edgar Morin e os saberes necessários à Educação do futuro
O pensador e sociólogo francês Edgar Morin elaborou, em sua obra - Os sete saberes necessários à educação do futuro (2002) - profundas reflexões sobre a educação. Referência constante nas bibliografias de cursos nas áreas de educação, psicologia, filosofia e sociologia, entre outras, Edgar Morin é, sem dúvidas, uma das figuras mais respeitadas do pensamento ocidental contemporâneo. No campo da educação, especialmente, foi um dos primeiros pensadores do início do século 20 a sugerir uma reforma de paradigmas e questionar, já naquela época, o ensino meramente disciplinar e pautado em conteúdos técnicos.
Para ele, é a capacidade de aplicar o conhecimento de maneira crítica, e não o volume de informações adquiridas na escola, que pode ajudar o pensamento humano a se desenvolver. O pensamento, aliás, é a principal temática de Morin, que ao longo de sua vida criou e aperfeiçoou o que ficou conhecido como teoria do pensamento complexo.
O Homo Sapiens, como ele gosta de se referir ao ser humano, é um fruto da vida natural e da cultura; ao seguir esta linha de raciocínio, ele encontra uma forma de construir a Educação dos tempos futuros, embora ela pareça ainda estar tão vinculada ao passado, principalmente ao fragmentar o conhecimento.
Morin defende o pensamento integral, pois ele permite ao homem concretizar uma meditação mais pontual; a pedagogia actua, porém, com seu radical fraccionamento do saber, e leva o indivíduo a entender o universo em que vive de forma facciosa, sem conexão com o universal. Assim, rompe-se qualquer interacção entre local e global, o que proporciona uma resolução das questões existenciais completamente desvinculada da contextura em que elas estão situadas.
Estes debates estão inseridos na teoria da complexidade deste educador, a qual preconiza que o pensamento complexo permite abarcar a uniformidade e a variedade contidas na totalidade, ao contrário da tendência do ser humano a simplificar tudo. Ele afirma a importância do ponto de vista integral, embora não descarte o valor das especialidades.
Edgar Morin percebe a classe escolar como uma entidade complexa, que engloba uma variedade de disposições, estratos socioeconómicos, emoções e culturas, portanto, ele a vê como um local impregnado de heterogeneidade. Assim, ele considera ser este o espaço perfeito para se dar início a uma transformação dos paradigmas, da maneira convencional de se pensar o ambiente escolar. É preciso que este contexto tenha um profundo significado para os alunos.
O caminho indicado por Morin é o da visão que se retira do âmbito estreito da disciplina, compreende o contexto e adquire o poder de encontrar a conexão com a existência. É preciso romper com a fragmentação do conhecimento em campos restritos, no interior dos quais se privilegiam determinados teores, e também eliminar a estrutura hierárquica vigente entre as disciplinas. Reformar esta tradição requer um esforço complexo, uma vez que esta mentalidade foi desenvolvida ao longo de inúmeras décadas.
Nos dias actuais, esse tipo de argumentação pode parecer bastante comum e, se você acompanha o universo da educação, pode achar até um pouco “clichê”. Mas é importante lembrar que Morin construiu e defendeu a transdisciplinaridade (ou interdisciplinaridade) em um tempo no qual praticamente ninguém falava sobre isso. E é por essa razão que, ao longo das décadas, ele ganhou prestígio como um dos maiores influenciadores do debate educacional e filosófico ocidental.
Em Os sete saberes necessários à educação do futuro (2002), Morin defende que os programas educativos governamentais, embora diferentes em cada parte do mundo, ignoram sete pontos (ou saberes) essenciais para que a educação avance, e desta forma estão a criar “buracos negros” que precisam ser revistos afim de se oferecer uma formação completa às crianças, aos jovens e aos adultos. A lista foi criada após um pedido da ONU - Organização das Nações Unidas - para que Morin apresentasse uma relação dos temas que não poderiam faltar para formar o cidadão do século 21.
Neste empenho para mudar a tradição educacional, Morin estabelece igualmente os sete saberes, indispensáveis na edificação do futuro da educação:
O primeiro é sobre as cegueiras do conhecimento – o erro e a ilusão: deve-se valorizar o erro enquanto instrumento de aprendizagem, pois não se conhece algo sem primeiro cair nos equívocos ou nas ilusões.
O segundo saber se relaciona ao conhecimento próprio, a unir os mais diversos campos do conhecimento para combater a fragmentação; assim, a educação deve deixar a contextura, o universal, as diversas dimensões do ser humano e da sociedade, e a estrutura complexa bem claras.
O terceiro saber é ensinar a condição humana, transmitir ao aluno que o Homem é um ser multidimensional. Assim, a pedagogia do amanhã necessita, antes de tudo, privilegiar a compreensão da natureza do ser humano, ele também é um indivíduo fragmentado.
O quarto saber preconiza que a identidade terrena também deve ser prioridade, pois é fundamental conhecer o lugar no qual se habita, suas necessidades de sustentabilidade, a variedade inventiva, os novos implementos tecnológicos, os problemas sociais e económicos que ela abriga.
O quinto saber indica a urgência de enfrentar as incertezas, que parte da certeza da existência de dúvidas na trajectória humana, pois, apesar de todo o progresso da Humanidade, não é possível, ainda, predizer o futuro, uma região nada previsível, a qual desafia constantemente o Homem.
O sexto saber defende que se deve ensinar a compreensão, factor indispensável na interacção humana; ela deve ser instaurada em todos os campos de ação do cotidiano escolar.
O sétimo saber é a ética do género humano, correspondente à antropo-ética, a qual defende que não devemos querer para outrem aquilo que não desejamos para nós mesmos, como já pregava Jesus Cristo.
Para Edgar Morin, ensinar esses sete saberes necessários para a educação (e que hoje ainda não são desenvolvidos na maioria das escolas) não significa excluir as disciplinas já ensinadas, mas sim mostrar como elas estão conectadas umas às outras, que os factos raramente têm explicações rasas e precisam ser olhados mais a fundo para que crianças e jovens tenham uma formação cada vez mais crítica.
Fontes:
https://www.infoescola.com/pedagogia/a-educacao-segundo-edgar-morin/
https://revistaeducacao.com.br/2021/08/17/edgar-morin-saberes-nao-curriculares/
https://www.inteligenciadevida.com.br/pt/conteudo/as-contibuicoes-de-edgar-morin-para-a-educacao/
Texto adaptado por: Profª Eliane Ap. Zulian Delázari