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Educação Inclusiva: onde e como?
É notório que a inclusão exige mudança. A celebração da diferença rompe com a cultura escolar que busca moldar todos a um modelo único, esse processo de mudança foi e é uma das maiores causas acolhida pela Educação Inclusiva.
Uma das maiores conquistas da Educação nos últimos anos foi a instituição de uma política nacional que declarou como direito de todas as crianças e adolescentes estudar nas escolas regulares. Na prática, a lei garantiu às pessoas com e sem deficiência o direito de conviverem e aprenderem com a diferença.
Evidentemente, esses direitos encontram grandes obstáculos à sua efectivação em organizações orientadas para a homogeneização, como é o caso da escola. Só as instituições que criam novas formas de se organizar costumam acolher e efectivamente incluir nos processos de aprendizagem as pessoas das mais diversas capacidades, desejos e estilos de aprender. Para isso, efectivamente, são necessárias uma nova estrutura e uma nova cultura, nas quais a diferença seja celebrada.
A começar pela organização do espaço físico. Além da acessibilidade, é preciso garantir que todos se sintam parte daquela realidade, com suas diferentes capacidades mentais e físicas, culturas e hábitos. E também que todos se sintam responsáveis pelos cuidados com o espaço e o bem comum, cada um a cuidar de si e do próximo, de acordo com suas possibilidades. Para que todos possam efectivamente aprender, é preciso que o currículo, as metodologias e a avaliação sejam organizados pela lógica da singularidade. Os estudantes precisam ter voz activa na decisão sobre o que vai ser estudado, poder expressar seus interesses e curiosidades, acessar métodos que consideram suas facilidades e dificuldades. A avaliação sobre quanto o aluno aprendeu considerará os percursos individuais, de onde ele partiu e até onde chegou no período analisado.
O espaço compartimentado em salas de aula e carteiras enfileiradas, o tempo segmentado em aulas, o conhecimento fragmentado em disciplinas e a evolução determinada pela seriação não favorecem a inclusão das pessoas com deficiência, ou até de quem vem de outras culturas.
É por isso que a política de inclusão é uma conquista para todos, uma vez que, para se efectivar, ela precisa que as escolas rompam com essa estrutura homogeneizadora que, na prática, busca moldar todos a um modelo único, salienta Helena Singer - doutora em Sociologia e líder da Estratégia de Juventude para a América Latina na Ashoka.
O que a Educação Inclusiva tem a oferecer?
A especialista Maria da Paz (Gunga) Castro, educadora, formadora de professores e especialista em inclusão aponta caminhos para ir além do cuidado e garantir a inclusão de crianças com deficiência.
Já precisou pedir um conselho para um especialista e não sabia como viabilizar isso? Eis o exemplo de um professor dos Anos Iniciais que tem dúvidas como todo e qualquer professor envolvido com a Educação Inclusiva.
Renato, professor dos Anos Iniciais:
“Alunos especiais cada vez mais estão a chegar na escola. Chego no final da aula satisfeito quando este aluno participa, mas vejo que, sem toda uma estrutura, ele fica afastado. Parece que, se está quieto, está bem. Isso é o que a inclusão pode oferecer hoje? Como trabalhar com eles além do cuidado? “
Maria da Paz Castro, educadora:
Ainda é comum, em muitas escolas, a visão de que alunos com deficiência atrapalham e que o professor teria de contê-los para que não incomodem os demais. No entanto, precisamos quebrar essa ideia. “Se está quieto, está tudo mal. Ele tem de ficar quieto na hora que todos têm de ficar quietos”.
Hoje, a Educação Inclusiva vai além do acesso à escola. A perspectiva defende que estudantes com ou sem deficiência tenham a oportunidade e condições de participar plenamente das actividades escolares e possam desenvolver integralmente seus potenciais.
Dessa forma, precisamos quebrar com o olhar clínico para o atendimento desses alunos. A escola é um ambiente de cuidado, mas da mesma forma que é para todos. “Há os cuidados, mas não podem ser excessivos para não excluir e nem reproduzir o ambiente de casa ou do hospital. Escola é escola. A criança com deficiência tem direito de viver nesse espaço”, destaca a especialista.
Para pensar em propostas que possibilitem levar esse olhar para a prática, não existem fórmulas prontas – como tudo na Educação. Nem deve-se assumir que todo o trabalho precisa acontecer apenas de forma individual. Ele faz parte da classe e não pode ser isolado do grupo.
A sugestão é começar por onde começar qualquer acção docente: pelo diagnóstico, conhecer o aluno. Saber as potências e barreiras dele traz informações essenciais para traçar objectivos para esse estudante, planejar propostas e acompanhar os resultados.
“É ele que vai mostrar para nós como ensinar. Ele vai aprender, não necessariamente da mesma forma ou tempo que os demais, mas vai aprender”, diz a especialista. Isso também significa que não basta ter um laudo para encaixar um aluno em determinado comportamento, pois cada um é único.
Para conhecer as particularidades e possibilidades daquela criança ou adolescente, o professor pode conversar com o educador do ano anterior, com a família ou trocar estratégias com o responsável pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE), caso o aluno participe no contraturno das actividades.
Sabemos que ainda é comum no cotidiano, porém usar termos como alunos especiais ou de inclusão não é o melhor para se referir a estudantes com deficiência.
“O que determina a deficiência não é o sujeito, é a barreira que possui. Um aluno com Síndrome de Down não é especial, ele vive na escola muito bem. Muitos têm uma dificuldade cognitiva que precisa de um apoio diferente. Aí, sim, ele está em situação de inclusão. Um estudante que usa cadeira de rodas, na hora que está na aula, está tudo bem. Quando precisa ir para o 5º andar e não tem elevador, ali está em situação de inclusão”, explica Maria da Paz. Afinal, todos os alunos são especiais, não é mesmo?
Informação importante:
O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é um programa desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC – Brasil) que reúne diversos recursos pedagógicos e de acessibilidade para atender necessidades educacionais específicas. Ou seja, ele abarca um conjunto de ferramentas para facilitar o processo de aprendizagem de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento (TGD) e altas habilidades ou superdotação. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos. Ele deve ocorrer no contraturno escolar e beneficia tanto o aluno quanto o professor da sala de aula comum.
Fontes:
https://novaescola.org.br/conteudo/21634/educacao-inclusiva-o-que-ela-tem-a-oferecer
https://novaescola.org.br/conteudo/15168/a-inclusao-exige-mudanca
Texto adaptado por: Profª Eliane Aparecida Zulian Delázari