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Produção de texto: o que escrever e de que forma fazer isso
A produção textual na escola configura uma prática essencial para o desenvolvimento intelectual e para a formação social dos alunos. Através dessa competência, o estudante pode expressar suas ideias em relação a diversos assuntos, aprender sobre a língua, além de encontrar formas de interagir consigo mesmo e com o universo que o cerca. Contudo, esse processo em sala de aula ainda associa-se a uma abordagem que leva em consideração, sobretudo, aspectos motores e exercícios mecânicos, uma escrita descontextualizada, que não desperta interesse, tampouco propicia ao aluno uma experiência de autoria e olhar crítico. Por essa razão, convém ressaltar outro viés para o trabalho com a produção de textos, o qual mencione aspectos cognitivos e sociointeracionais, isto é, uma escrita também de expressão dos discentes cuja dinâmica suscite textos e temas relevantes, com metodologias diversificadas a partir de uma efectiva produção de géneros textuais.
Três tipos de texto: narração, descrição e dissertação
Por muito tempo, três tipos de texto reinaram absolutos nas propostas de escrita, são eles: narração, descrição e dissertação. Actualmente, o consenso entre professores, é que essa maneira de ensinar a escrever foi uma das principais responsáveis pela falta de proficiência entre nossos estudantes. O trabalho baseado nas famosas composições e redações escolares tem uma fragilidade essencial: ele não garante o conhecimento necessário para produzir os textos que os alunos terão de escrever ao longo da vida. Nessa abordagem, o interessante era que ninguém considerava quem seriam os leitores. Não havia a reflexão sobre a melhor estratégia para colocar uma ideia no papel.
Para aproximar a produção escrita das necessidades enfrentadas no dia-a-dia, o caminho actual é enfocar o desenvolvimento dos comportamentos leitores e escritores. Ou seja: levar a criança a participar de forma eficiente de actividades da vida social que envolvam ler e escrever. Noticiar um facto num jornal, ensinar os passos para fazer uma sobremesa ou argumentar para conseguir que um problema seja resolvido por um órgão público: cada uma dessas acções envolve um tipo de texto com uma finalidade, um suporte e um meio de veiculação específicos. Conhecer esses aspectos é condição mínima para decidir, enfim, o que escrever e de que forma fazer isso. Fica evidente que não são apenas as questões gramaticais ou notacionais (a ortografia, por exemplo) que ocupam o centro das atenções na construção da escrita, mas a maneira de elaborar o discurso.
Há outro ponto fundamental nessa transformação das actividades de produção de texto: quem vai ler. E, nesse caso, você não conta. Escrever não é fácil. Para que o aluno fique estimulado com a proposta, é preciso que veja sentido nisso. O objectivo é fazer com que um leitor ausente no momento da produção compreenda o que se quis comunicar e esse desafio requer diferentes aprendizagens.
O primeiro passo é conhecer os diversos géneros. Mas é preciso atenção: isso não significa que os recursos discursivos, textuais e linguísticos dos contos de fadas e da reportagem, por exemplo, sejam conteúdos a apresentar aos alunos sem que eles os tenham identificado pela leitura, como ressalta Delia Lerner no livro Ler e Escrever na Escola. Um primeiro risco é o de cair na tentação de transmitir verbalmente as diferentes estruturas textuais. De acordo com a pesquisadora em didáctica, cabe a todo professor permitir que as crianças adquiram os comportamentos do leitor e do escritor pela participação em situações práticas e não "por meras verbalizações".
Ensinar a produzir textos nessa perspectiva prevê abordar três aspectos principais: a construção das condições didácticas, a revisão e a criação de um percurso de autoria, como se pode ver a seguir.
Os textos redigidos em classe precisam de um destinatário
"Escreve um texto sobre a primavera." Quem se depara com uma proposta como essa imediatamente deveria se fazer algumas perguntas. Para quê? Que tipo de escrita será essa? Quem vai lê-la? Certas informações precisam estar claras para que se saiba por onde começar um texto e se possa avaliar se ele condiz com o que foi pedido. Nas pesquisas didácticas de práticas de linguagem, essas delimitações denominam-se condições didácticas de produção textual. No que se refere ao exemplo citado, fica difícil responder às perguntas, já que esse tipo de redação não existe fora da escola, ou seja, não faz parte de nenhum género.
É importante saber que o trabalho com um género em sala de aula é o resultado de uma decisão didáctica que visa proporcionar ao aluno conhecê-lo melhor, apreciá-lo ou compreendê-lo para que ele se torne capaz de produzi-lo na escola ou fora dela.
Para que a criança possa encontrar soluções para sua produção, ela precisa ter um amplo repertório de leituras.
Procurar desenvolver a leitura crítica de textos jornalísticos e o conhecimento das estruturas argumentativas na produção textual, uma das ideias é propor uma actividade permanente: a cada semana, um grupo elege uma notícia e expõe à turma a forma como ela é tratada nos jornais. Depois, forma-se um debate sobre o tema.
Paralelamente, os estudantes têm contacto com textos de finalidades comunicativas diversas no jornal, como cartas de leitores, editoriais, artigos opinativos e horóscopo. O objectivo é que eles sejam capazes de analisar os materiais, reflectir sobre os propósitos de cada um e, dessa forma, adquirir um repertório discursivo e linguístico.
Uma das propostas é trabalhar com textos opinativos, como os editoriais. Para que a escrita ganhe sentido, é importante sempre valorizar o trabalho desenvolvido pelos alunos, como aproveitar a ideia do jornal e afixá-lo no corredor onde toda a comunidade escolar possa ter acesso a ele. Os assuntos escolhidos ficam a cargo das principais notícias do momento e que chame a atenção dos alunos. Após esse trabalho, com as características do género já discutidas e frescas na memória, todos podem passar à produção individual.
Envolver estudantes da 7ª a 9ª classe na produção textual é um grande desafio. Muitas vezes, eles tiveram de produzir textos sem função comunicativa durante a escolaridade inicial e, por acreditarem que escrever é uma chatice, são mais resistentes. Para driblar esse problema é preciso trazer temas que sejam do interesse dos alunos, temas que agucem o desejo de discutir sobre o assunto e, paralelamente, criem subsídios para a elaboração de um texto.
É notório que alguém ao se colocar na posição de escritor, é preciso que sua produção tenha circulação garantida e leitores de verdade. Só assim ele assume responsabilidade pela comunicação de seu pensamento e se coloca na posição do leitor, antecipando como ele vai interpretá-lo.
A criação de condições didácticas nas propostas para as turmas de 1ª a 6ª classe segue os mesmos preceitos utilizados até aqui. Em qualquer classe, como na vida, produzir um texto é resolver um problema. No entanto, para isso é preciso compreender quais são os elementos principais desse problema.
Revisão vai além da ortografia e foca os propósitos do texto
Produzir textos é um processo que envolve diferentes etapas: planejar, escrever, revisar e reescrever. Esses comportamentos escritores são os conteúdos fundamentais da produção escrita. A revisão não consiste em corrigir apenas erros ortográficos e gramaticais, como se fazia antes, mas cuidar para que o texto cumpra sua finalidade comunicativa.
Com a ajuda do professor, as turmas aprendem a analisar se ideias e recursos utilizados foram eficazes e de que forma o material pode ser melhorado.
Uma dica que faz muito sentido é envolver os alunos na reescrita de um conto preferido que deve ser narrado em primeira pessoa. A ideia é reescrevê-lo na perspectiva de um observador, ou seja, em terceira pessoa.
É importante ressaltar que a proposta não é só o relato de um facto. É preciso ter informações e detalhes da história para torná-la mais interessante e também organizá-la para dar emoção. Não importa quantas versões serão feitas, o importante é ir lapidando e enriquecendo o texto.
É bom salientar que será preciso diferentes formas de revisão, como leitura em voz alta (esse processo identifica a omissão de palavras e informações), análise colectiva de uma produção no quadro-negro, revisão individual com base em discussões com o grupo e revisões em duplas. Em um segundo momento a professora deve seleccionar alguns aspectos a enfocar na revisão: ortografia, gramática e pontuação, pois não é possível abordar de uma só vez todos os problemas que surgem.
A revisão em grupo desenvolve a reflexão sobre o que foi produzido por meio justamente da troca de opiniões e críticas. Revisar o que os colegas fazem é interessante, pois o aluno se coloca no lugar de leitor. Quando o aluno volta para a própria produção e faz a revisão ele tem mais condições enxergar fragilidades no seu texto.
Um escritor proficiente, no entanto, não faz a revisão só no fim do trabalho. Durante a escrita, é comum reler o trecho já produzido e verificar se ele está adequado aos objectivos e às ideias que tinha intenção de comunicar, só então planeja-se a continuação. E isso é feito por todo escritor profissional.
A revisão em processo e a final são passos fundamentais para conseguir de facto uma boa escrita. Nesse sentido, a maneira como você escreve e revisa no quadro-negro, por exemplo, pode colaborar para que a criança o tome como modelo e se familiarize com o procedimento.
Ser autor exige pensar no enredo e na estrutura
O terceiro aspecto fundamental no trabalho de produção textual é garantir que a criança ganhe condições de pensar no todo. Do enredo à forma de estruturar os elementos no papel: é preciso aprender a dar conta de tudo para atingir o leitor. Esse processo denomina-se construção de um percurso de autoria e se adquire com tempo, prática e reflexão.
Os estudos em didáctica das práticas de linguagem fizeram cair por terra o pensamento de que a redação com tema livre estimula a criatividade. Hoje sabe-se que depois da alfabetização há ainda uma longa lista de aprendizagens.
Nesse contexto, uma proposta interessante é o reconto oral que pode ser de uma fábula conhecida. Isso envolve organizar ideias e pode ser uma forma de planejar a escrita. Quando já dominamos todas as informações de uma narrativa, podemos focar apenas na forma de expor os elementos, mas esse é um grande desafio no início da escolaridade.
Uma segunda propostas é a produção de versões de fábulas conhecidas com modificações dos personagens ou do cenário. Dessa forma, aos poucos, todos ganham condições de inventar situações. Neste caso a turma deve entender bem o sentido da moral da história. Com essa compreensão, o processo seguinte é sugerir a criação de uma fábula individual e não esquecer que elas geralmente têm como protagonistas inimigos tradicionais, cão e gato ou gato e rato, por exemplo.
Como dica, essas produções podem ser enviadas para estudantes de outra escola para serem lidas, isso serve de estímulo para bolar tramas envolventes.
Expectativas de aprendizagem de escrita
No que se refere à escrita, é importante que, no fim da 6ª classe, o aluno saiba:
Revisar textos (próprios e de outros) do ponto de vista ortográfico.
Ao concluir a 9ª classe, o estudante precisa estar apto também a:
Conclusão
A produção de textos é o acto de expor por meio de palavras as ideias sobre determinado assunto.
Saber como escrever um texto pode ser um pré-requisito para conseguir um emprego e uma vaga na faculdade. Isso porque pessoas que escrevem bons textos conseguem se expressar melhor.
Vale lembrar que o hábito da leitura é essencial para se produzir um bom texto. Enquanto estamos lendo, ampliamos nosso vocabulário e, consequentemente, nosso universo interpretativo.
Com o acto da leitura estamos aumentando nossa capacidade de entender melhor tudo que nos rodeia.
Fontes:
https://www.isciweb.com.br/revista/1056-a-importancia-de-trabalhar-producao-de-texto-no-ensino-fundamental
https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/35558
https://novaescola.org.br/conteudo/231/producao-de-texto-como-ensinar-os-alunos-a-escrever-de-verdade
https://www.todamateria.com.br/producao-de-textos-como-comecar/
Texto adaptado por: Profª Eliane Ap. Zulian Delázari