Memória de Trabalho: o que é e como trabalhar em sala de aula

Memória de Trabalho: o que é e como trabalhar em sala de aula

A memória de trabalho é um sistema de capacidade limitada que permite o armazenamento e a manipulação temporária de informações verbais ou visuais necessárias para tarefas complexas, como a compreensão, aprendizagem e raciocínio: a memória verbal contém informação que pode ser expressa em números, palavras e frases; a memória visual-espacial de curto prazo armazena imagens e informação sobre a localização no espaço. 

A memória de trabalho também pode ser chamada de memória operacional, a qual pode ser definida como um sistema de armazenamento temporário e de manipulação de informações responsável pelo processamento da linguagem, aprendizagem e raciocínio lógico. É caracterizada como um conjunto de competências que permitem a manipulação de novas informações e mantê-las em actividade simultaneamente, com o objectivo de realizar uma tarefa.

Uma das principais responsabilidades da memória de trabalho é gerir, manipular e transformar a informação da memória de curto e longo prazo. Por exemplo, a resolução de um problema de matemática implica manter os detalhes do problema na memória verbal de curto prazo, enquanto se recupera da memória de longo prazo as fórmulas matemáticas necessárias para realizar os respectivos cálculos. 

O que a memória de trabalho faz?

A memória de trabalho é a principal responsável por actividades que executamos todos os dias como fazer um cálculo mental, reordenar itens, relacionar diferentes aspectos, como ideias e factos para a resolução de um problema, memorizar rapidamente uma informação útil para aquele momento (como por exemplo um número de telefone) e contribui significativamente no processo de leitura e compreensão de textos. Os lobos frontais do cérebro são responsáveis pela memória de trabalho, e também responsáveis por manter o foco e a concentração. Todas essas habilidades estão interligadas e funcionam de maneira conjunta. Em nosso cérebro nada é desconectado, mesmo que tenhamos funções cognitivas com finalidades diferentes, todas elas sempre funcionam juntas. Por este motivo que a memória operacional tem esse papel de “gerenciadora” digamos assim, associa e recruta informações que precisam ser utilizadas em dado momento, com outras partes do nosso cérebro. 

Ao considerar isto, a memória de trabalho ajuda as crianças a se lembrarem em quê precisam prestar atenção. Por exemplo, diante de um desafio, a criança precisa da memória de trabalho não só para encontrar a solução, mas também para se concentrar em todas as etapas que tem de percorrer até chegar a ela. Já quando apresenta uma falha no funcionamento da memória de trabalho, costuma ter mais dificuldades em manipular todas as informações necessárias em mente para encontrar a solução, bem como se distrai com muito mais facilidade durante a execução da actividade. 

O que pode interferir no funcionamento adequado da memória de trabalho?

O “mal funcionamento” da memória de trabalho pode ocorrer por muitos aspectos, desde alterações no neurodesenvolvimento até transtornos mentais em diferentes níveis de severidade. Porém algumas falhas na memória operacional em nosso cotidiano podem acontecer pelo excesso de informações que nos rodeia e que disputam todos ao mesmo tempo pela nossa atenção: o uso de smarthphones, os diversos afazeres do dia-a-dia, preocupações, ansiedade, estresse, dentre outros conteúdos que sobrecarregam nossa memória de trabalho e causa cansaço mental e alguns “deslizes” sem intenção. Por exemplo, já ocorreu com você de sair de um cômodo da casa para outro a procurar algo, e ao chegar lá, já se esqueceu do que procurava? Sair de casa e não se lembrar mais se trancou as portas?

Esquecer onde colocou um objecto que estava a pouco tempo a segurar? Esta é tua memória de trabalho a cometer um deslize e a demonstrar sobrecarga.

Como detectar memória de trabalho fraca em sala de aula 

Os estudantes com limitações de memória de trabalho podem manifestar essa dificuldade das seguintes formas:

• Ter um desempenho abaixo da média em algumas ou todas as áreas de aprendizagem;
• Ter dificuldades com raciocínios complexos;
• Ter problemas com tarefas que têm mais do que um passo;
• Deixar de trabalhar porque perderam a noção do que devem fazer;
• Ausência de competências em planejamento e organização;
• Dificuldade em aplicar o que aprenderam numa experiência anterior;
• Dificuldade em lembrar-se de todas as indicações espaciais recebidas para chegar a um lugar;
• Dificuldade em pensar e executar ao mesmo tempo;
• Parecem altamente distraíveis e desatentos, mas não impulsivos ou hiperativos;
• Demonstram baixa autoestima;
• Dificuldade em seguir conversas em grupo.

Abordagens úteis no cotidiano escolar

As lacunas na leitura e na ortografia devem ser abordadas directamente. A fraca memória de trabalho contribui para uma má descodificação e codificação de palavras. São recomendadas abordagens multissensoriais para estudantes com fraca memória de trabalho.

Para os estudantes com descodificação adequada, mas baixa compreensão de leitura, deve ser abordada a formação directa em estratégias tais como monitorização da compreensão, conhecimento e utilização de estruturas de texto e utilização do contexto linguístico. Os estudantes podem sentir dificuldades em reter a informação quando as frases são demasiado longas. Sempre que isso acontece recomenda-se que o ritmo de leitura abrande e, se necessário, que o texto seja relido.

A leitura lenta interfere com a compreensão de frases. Uma estratégia para controlar a fluência passa pela entoação adequada e a divisão das frases em partes significativas. Essa filtragem ajuda a reduzir o número de peças a serem armazenadas na memória de trabalho para processamento imediato.

Aos alunos com problemas na matemática, deve ser permitido o acesso fácil a factos matemáticos básicos. Esta abordagem permite ao aluno concentrar-se em raciocínios matemáticos de nível superior sem se preocupar em obter informação que não é automática. Em matemática mais avançada, os estudantes podem ter dificuldade em realizar processos matemáticos que envolvam múltiplas etapas. Tais estudantes podem compreender, no geral, como resolver uma complexa conta de multiplicação, mas cometem erros devido à omissão de algum passo essencial. Um cartão com exemplos práticos de operações matemáticas que envolvam múltiplas etapas pode apoiar a memória e a aprendizagem.

Apoio em sala de aula

A memória de trabalho é essencial para a aprendizagem e os apoios na sala de aula são essenciais para todos os alunos, não apenas os que apresentam fraca memória. Embora ainda não tenhamos uma forma de alterar a nossa memória de trabalho, há muitas coisas que os pais e professores podem fazer para apoiar a aprendizagem, por exemplo:

• Monitorização dos alunos para detectar sinais de memória de trabalho com fragilidades;
• Reduzir a quantidade de informação a armazenar (por exemplo, fornecer informação num quadro, ou caderno para que os estudantes não tenham de guardar a informação na memória);
• Simplificar a informação para facilitar o seu processamento;
• Ensinar aos estudantes como e quando aplicar as ajudas de memória; 
• Repetição de informação com a frequência que for necessária;
• Resumir as informações, simplificar os processos de ensino
• Fornecer exemplos trabalhados.

Como buscar ajuda?

Ao apresentar déficits no funcionamento da memória de trabalho, pequenas falhas ocasionadas por lapsos de atenção, como também, dificuldades mais graves em concentrar-se em actividades mais complexas, compreender instruções, fazer actividades sequenciais e dentre outros impasses que prejudicam o processo de aprendizagem é importante buscar o serviço de psicologia e/ou neuropsicologia. Esses profissionais são os recomendados, visto que farão uma avaliação dos motivos pelos quais a memória de trabalho está em prejuízo e buscar, a partir dos resultados, a forma de intervenção mais adequada para cada caso.

Concluímos então que é de suma importância estimular essa função cognitiva, visto que seu bom funcionamento é indispensável para que o indivíduo possa aprender e lidar com as demandas cotidianas.

Mas lembre-se: nos tempos actuais é necessário ter cautela, principalmente com as crianças, para que este excesso de informações, principalmente as advindas do uso das telas, não cause ou agrave prejuízos já existentes. 

Fontes:

https://centroevolvere.com.br/blog/o-que-e-memoria-de-trabalho/

https://www.centrosei.pt/blog/sinais-de-alerta-de-dificuldades-na-memoria-de-trabalho-e-estrategias-de-apoio-o7loi-r2j3a

Texto adaptado por: Profª Eliane Ap. Zulian Delázari