A Leitura como fonte de vida!

Postado por inovar 04/05/2023 0 Comentários

A Leitura como fonte de vida!

 

 

 

 

Ler, ler, ler e ler! Leio para mim, leio para você, leio para meu amigo, leio para minha avó, leio para o bebé...

 

Leio no pensamento, leio em voz alta, leio sussurrando, leio a natureza, leio as imagens, leio pinturas, leio placas de trânsito, leio cartazes, livros, revistas, banda desenhada...

 

A leitura é algo importante na vida do ser humano. Ler estimula a criatividade, trabalha a imaginação, exercita a memória, contribui com o crescimento do vocabulário e a melhora na escrita, além de outros benefícios. 

 

A leitura nos traz alegria, tristeza, felicidade, saudade, um novo jeito de olhar para o mundo, abre horizontes e nos transporta para vários lugares, sejam eles conhecidos ou desconhecidos. Ondjaki trouxe até nós um mundo diferente ao escrever Ombela, basta que você se teletransporte para o mundo que quiser.

 

 

 

Ndalu de Almeida, popularmente conhecido como Ondjaki, é um poeta e escritor angolano. Nascido em Luanda, em 1977, tem publicadas várias obras para a infância e juventude, algumas delas premiadas, nomeadamente “Uma escuridão bonita. Estórias sem luz eléctrica”, feito com António Jorge Gonçalves, “A bicicleta que tinha bigodes”, “O leão e o coelho saltitão”, também ilustrado por Rachel Caiano, e “Ynari: a menina das cinco tranças”, ilustrado por Danuta Wojciechowska. Sua trajectória artística passa também pela actuação teatral e pela pintura. Entre os prémios conquistados pelo autor contam-se o Prémio Saramago, em 2013, e o Prémio Bissaya Barreto, em 2012. Ondjaki sempre gostou muito da chuva, da água e do mar. Então ele começou a pensar “como será que a chuva foi criada?” E resolveu escrever um conto com jeito de lenda antiga que explicasse a origem da chuva. Eis que surge essa maravilhosa obra OMBELA! 

 

 

 

 

 

Rachel Caiano, artista plástica e ilustradora, nascida no Brasil em 1977, com formação em artes do palco, tem vindo a desenvolver projectos nas áreas da pintura, cenografia e ilustração. Já ilustrou vários títulos para a infância, entre os quais “Viagem ao país da levitação”, de Gonçalo M. Tavares, “Pequeno livro das coisas” e “Tudo é sempre outra coisa”, ambos de João Pedro Mésseder. O seu livro “Umas Coisas Nascem Outras”, com texto de João Pedro Mésseder, foi vencedor do Prémio Autores da SPA 2016.

 

 

 

 

Ombela conta a história de uma deusa menina africana, a qual atribui o poder da criação da chuva, a deusa das chuvas, que está a começar entender os seus sentimentos, a diferença entre alegria e tristeza. Ao chorar, ela se questiona para onde vão suas lágrimas. Neste momento, é o pai dela que lhe ensina que “a tristeza faz parte da vida” e que também se pode chorar de felicidade, com lágrimas doces que enchem rios, lagos e oceanos.

 

Ombela é uma palavra escrita em umbundo, uma das línguas faladas pelo povo Banto de Angola. Ombela em umbundo quer dizer chuva.

 

Acompanhe Ombela nesta história, chegue mais perto da natureza, aprenda sobre seus mistérios e descubra o segredo das chuvas.

 

 

Ombela – a origem das chuvas

 

Dizem os mais velhos que a chuva nasceu da lágrima de Ombela, uma deusa que estava triste.

 

 

– Estou triste e vou chorar... mas para que as minhas lágrimas não matem os bichos nem as pessoas que vivem na Terra, vou deixar que tenham muito sal e que alimentem os mares.

O pai de Ombela, ao saber da sua tristeza, veio falar com ela:

– Minha filha, a tristeza faz parte da vida.

– Eu sei, pai. Mas quando estou triste, dói-me o peito.

O pai de Ombela sorriu.

Depois apagou o sorriso do seu rosto e disse:

– Que sorte, minha filha, que só te dói o peito.

– E tu, pai, quando estás triste o que acontece?

– Fico mais pequenino, filha.

– Os deuses podem ficar mais pequenos?

– Podem – respondeu o pai de Ombela. – Os deuses, com o passar do tempo, ficam cada vez mais pequenos.

 

 

Ombela limpou sua primeira lágrima e quase se esquecia de chorar.

– Não te esqueças de chorar – lembrou-lhe o pai. Assim como a lua tem muitas faces, no mundo, por vezes, faz Inverno e outras vezes faz Verão. Mesmo nós, os deuses, não podemos sempre estar felizes.

– Se é hora de sorrir, deves sorrir. Se precisas de chorar, deves chorar.

Ombela começou a chorar.

Tinha muitas lágrimas e parecia muito triste.

Chorou durante algum tempo e assim se encheram os oceanos dessa água tão salgada.

 

 

 

– Penso que é hora de parar de chorar. Não sei se choro porque ainda estou triste ou porque gosto tanto de olhar o mar...

O pai de Ombela, ao saber da sua dúvida, veio falar com ela.

– Minha filha, quero que saibas mais uma coisa: as lágrimas não nascem dos olhos apenas quando estamos tristes. Existem também as lágrimas de felicidade. Quero mostrar-te uma coisa.

O pai de Ombela pôs as suas mãos em concha e mostrou-lhe as flores, as árvores, os animais e tudo o que na Terra precisava de água doce.

 

 

Com o seu dedo desenhou alguns rios. Depois inventou os lagos e lagoas.

– Estes riscos que vês na Terra, e estes lugares que parecem buracos vazios, esperam agora novas lágrimas tuas.

– Parecem caminhos e lugares de águas...

– Sim, são caminhos e lugares e águas.

– Vamos chamar-lhes rios, lagos, lagoas – sorriu Ombela. – Já não estou tão triste e ainda tenho lágrimas comigo.

– Agora vou fazer chover sobre a terra: a lágrima da tristeza vai chamar-se “água salgada”. A nova lágrima será a “água doce”.

O pai de Ombela sorriu e retirou-se.

Dizem os mais velhos que a chuva é sinal de que Ombela está a chorar.

Se essa chuva cai sobre o mar, Ombela está triste. Se cais sobre a terra, sobre os rios, sobre os lagos, Ombela está feliz.

Dizem que Ombela teve muitas filhas... E que todas sabem fazer chover.

 

 

(...) Esta história compreende que nem sempre é possível estar contente e não seria muito bom estarmos sempre tristes. E nessa oscilação, entre o triste e o contente, que o pai dela lhe vai ensinando, digamos, a trabalhar com a ideia da lágrima e depois da lágrima que se transforma em chuva. É uma ideia de equilíbrio e a natureza mostra-nos isto todos os dias: há a lua e há o sol, há o dia e há a noite, há o inverno e o verão e nós também somos assim. Dentro de nós, às vezes faz verão e às vezes faz inverno (...)

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           Ondjaki

 

 

Fontes:

https://lirioalmeida.worpress.com/2019/07/07/ombela-a-origem-das-chuvas/

https://jornallf8net/2015/ombela-a-origem-das-chuvas/

https://cristinasaliteraturainfantilejuvenil.blogspot.com/2019/08/ombela-origem-das-chuvas-de-ondjaki-e.html

https://unilab.edu.br/2014/07/02/angola-ondjaki-lanca-novo-livro-para-criancas/

Texto adaptado por: Profª Eliane Aparecida Zulian Delázari