Qual a idade certa para alfabetizar?

Postado por inovar 03/03/2025 0 Comentários

Qual a idade certa para alfabetizar?

 

 

 

 

 

A 1ª classe do Ensino Primário é uma etapa que possibilita a compreensão da cultura escrita e da matemática, faz com que o aluno se desenvolva em múltiplas formas de comunicação, facilita a sua expressão, criação e compreensão do ambiente natural e social, estuda através da formulação de hipóteses e do desenvolvimento das diferentes formas de comunicação, ainda com o auxílio da ludicidade de expressão e criação. 

 

Quando as crianças iniciam o Ensino Primário, é muito comum que os pais perguntem aos professores quando a alfabetização infantil será realizada. 

 

Eles esperam ver seus filhos a ler e a escrever, não somente pelo facto de ser gratificante acompanhar a evolução dos pequenos, mas também porque leitura e escrita promovem maior autonomia. Poder ler placas e instruções, escrever um recado ou ler um livro é libertador! 

 

Além disso, a leitura também propicia uma inclusão social, e as crianças se sentem ainda mais pertencentes à comunidade em que vivem. 

 

Como exemplo, no Brasil, segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o processo de alfabetização infantil deve se iniciar no 1ª ano do Fundamental, por volta dos 6 anos de idade. Espera-se que a alfabetização integral dos estudantes seja finalizada até o 2º ano do Ensino Fundamental. 

 

Mas, afinal, iniciar a alfabetização somente aos 6 anos de idade é o mais apropriado? Por que não começar antes? 

 

Primeiro precisamos entender o significado de Alfabetizar. Alfabetizar, no sentido mais amplo, é descobrir o valor e o sentido da palavra que revela, desvela, nivela, forma, mas também deforma opiniões. É perceber que a palavra é matéria-prima, que cria arte, traduz não só o mundo real, mas também o mundo do inconsciente. 

 

 

Diferença entre alfabetização infantil e letramento 

 

Para uma criança ter a habilidade e a coordenação motora de escrever e ter o raciocínio de interpretar as palavras e dar sentido ao que está escrito, é preciso ir além da alfabetização infantil. Esse processo, que começa muito antes de a criança ser alfabetizada formalmente, chama-se letramento

 

De maneira direta, a alfabetização permite que uma pessoa reconheça o sistema de escrita, sabe a codificar e decodificar letras e palavras, enquanto o letramento possibilita a interpretação da leitura em diferentes contextos e que a escrita seja lógica e organizada. 

 

Uma pessoa letrada domina e utiliza a linguagem dentro da prática social. Ou seja, além de ler e escrever, ela não somente compreende os textos, mas também reflecte e argumenta. 

 

Outro aspecto importante é que a alfabetização e o letramento não são processos isolados, mas interagem entre si. 

 

Enquanto a alfabetização tem um início e um término bem-definidos, o letramento começa muito antes dos 6 anos de idade e segue em uma construção permanente. 

 

 

Letramento na Educação Infantil 

 

Para aprender a escrever, é preciso coordenação e força nas mãos. Para aprender a ler, é preciso conhecer a sonoridade das palavras. Para compreender o que se lê e raciocinar o que se escreve, é preciso ter o sistema cognitivo desenvolvido.  

 

Por isso, quando a criança é estimulada a manusear massa de modelar (“massinha”), participar de um momento de contação de histórias e canto, por exemplo, em aulas de música ou momentos de recreação, elas estão a ser estimuladas a desenvolver as áreas motora e cognitiva, preparando-se para a alfabetização. 

 

O despertar da leitura e da escrita e o entendimento sobre seu uso social representam os primeiros sinais da alfabetização. A Educação Infantil é fundamental para explorar o falar e o ouvir por meio de situações e exercícios interactivos e lúdicos.

 

É nessa fase também que os professores devem iniciar a apresentação e estimular o contacto das crianças com as mais variadas manifestações artísticas e a valorização da diversidade. Dessa forma, é possível incentivar e trabalhar a autoconfiança das crianças na produção dos próprios desenhos, pinturas e demais trabalhos manuais e criativos nessa idade.

 

 

 

 

Estimular as crianças dentro de casa  

 

Não é somente na escola que esses estímulos acontecem. Todo ambiente que a criança frequenta auxilia, em maior ou menor grau, no desenvolvimento motor, cognitivo e no entendimento da leitura no contexto social. 

 

Se você quer auxiliar teu filho a desenvolver as habilidades necessárias para a alfabetização de maneira consciente, veja abaixo algumas dicas práticas: 

  • Tenha livros em casa: além de ler os livros com a criança, deixe-a brincar com eles. Ao examinar as páginas e observar as figuras, criam-se laços afectivos e familiaridade com o mundo da leitura.
  • Cante para seus filhos: a música deixa o mundo da fala mais interessante, principalmente quando apresentam palavras que são usadas no dia-a-dia da criança.
  • Vincule o texto às coisas: além dos livros infantis, que conectam as palavras a coisas como animais, cores e objectos, você pode ler o nome de um alimento da embalagem, falar o que está escrito em placas ou a frase escrita em uma roupa.
  • Aproveite os brinquedos educativos: existem diversos tipos de brinquedos que auxiliam no desenvolvimento das crianças e que foram pensados para os desafios e para as motivações de cada faixa etária.
  • Utilize materiais acessíveis e actividades rotineiras: existem actividades rotineiras nas quais as crianças facilmente podem ser incluídas, como dobrar guardanapos, abotoar camisas, separar grãos e auxiliar nas actividades de jardinagem.
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Agora já sabes que a alfabetização é um processo que ocorre em todo lugar e que na escola ela será estimulada ao máximo, é importante entender como a escola do seu filho desenvolve esse processo em cada idade.

 

Assim, é possível participar activamente e em conjunto com a escola, para que a alfabetização seja efectiva e leve.

 

 

Como melhorar a alfabetização na escola

 

Poucos processos educacionais são tão decisivos para o perfil acadêmico de um aluno como a alfabetização na escola. A condução adequada pode transformar o aluno em um leitor interessado e trazer inúmeros benefícios para suas próximas etapas de aprendizado.

 

Por isso, as instituições de ensino e seus profissionais devem investir em boas técnicas e contar com o suporte da tecnologia para criar pequenos leitores.

 

 

Dicas de como melhorar a alfabetização na escola

  • Reserva tempo em sala de aula para ler em voz alta
  • Ler em voz alta permite que os alunos desenvolvam uma série de funções em paralelo à leitura – como a dicção, a compreensão auditiva melhorada, o desenvolvimento emocional e a conexão da escrita de leitura estabelecida.

 

Outra vantagem é que isso estimula as crianças a se expressarem de uma forma mais rica, indo além das palavras abreviadas usadas em apps de comunicação online ou das expressões coloquiais – comuns nas séries, filmes e programas de TV.

 

  • Incentiva a escrita

Escrever é uma parte crítica da alfabetização na escola – mas que pode parecer extremamente desafiadora para as crianças mais novas.

 

É importante garantir que os alunos na fase de alfabetização desenvolvam uma relação “saudável” com o hábito de escrever, o que ajuda a promover um senso de confiança nas crianças.

 

  • Estimula a “consciência da palavra”

Mesmo o mais rico programa de alfabetização na escola não consegue abranger a totalidade do vocabulário disponível e ensinar aos alunos todas as palavras que eles precisam saber.

 

Mas existem recursos que podem auxiliar nessa missão: um exemplo é promover uma espécie de jogo de sinónimos, que ajuda a incorporar palavras novas nas rotinas dos alunos em sala de aula.

 

Afinal, porque falar que o sanduíche que veio na lancheira é “bom” quando podemos usar termos como “suculento” ou “saboroso”?

 

  • Cria uma parede de leitura

Uma boa forma de promover a alfabetização na escola é estimular o hábito da leitura – especialmente quando a sugestão vem de uma figura querida ou de destaque na escola.

 

Separe uma parede em uma das áreas comuns – como o corredor das salas de aula ou próximo à cantina – e cria um mural com dicas de leitura.

 

Como isso funciona? Use pequenos pedaços de papel cartão colorido, que podem ser fixados ao quadro, a mostrar o nome do professor ou aluno, o que eles estão ou estiveram a ler e um trecho ou frase sobre o livro.

 

Se o livro estiver disponível na biblioteca da escola, isso deve ser mencionado. Acções assim ajudam a despertar o interesse pela leitura, o surgimento de novos leitores e até um clube de leitura entre alunos, pais e professores da instituição.

 

  • Concentra em construir conhecimento junto com as habilidades de leitura
  • Desenvolve o conhecimento básico das crianças em paralelo ao processo de alfabetização na escola.

 

O conhecimento acumulado ao longo da vida é uma parte importante das habilidades de um leitor. E quanto mais cedo isso for trabalhado, mais fácil será a jornada desses alunos.

 

Para colocar isso em prática, experimenta promover actividades que abordem um ponto específico sobre a leitura do momento, como promover uma aula de pintura inspirada no livro “Uma ideia toda azul”, de Marina Colasanti, ou aproveitar um eclipse lunar para iniciar a leitura de “O Pequeno Príncipe”.

 

  • Promove um formato de leitura interactiva

Com o intenso volume de estímulos visuais e tecnológicos disponíveis nos dias de hoje, algumas crianças podem apresentar uma certa dificuldade em ficar paradas por um longo período de tempo e em ler em voz baixa.

 

Em vez disso, aplica o conceito de gamificação durante a alfabetização na escola:

-Joga uma bola de praia com palavras escritas – o aluno que pegar precisa formar uma frase com a palavra;

-Cria um quadro com velcro (tecido autocolante) e bolinhas de lã para formar palavras;

-Traz anúncios de revista e destaca termos específicos nas aulas.

 

  • Incorpora a alfabetização em todo o currículo

Faz com que alfabetização na escola aconteça um pouco a cada dia, e lembre-se que o acto de ler em voz alta envolve também o aprendizado em matemática, ciências e estudos sociais. Tarefas como escrever uma frase sobre um problema de história ou gerar palavras de vocabulário para descrever um objecto na aula de ciências ajudam a manter em mente as metas de leitura, escrita e fala em todas as lições.

 

Para isso acontecer, estimula o acesso de diversos títulos sobre diversos temas junto aos alunos.

 

 

Actividades para consolidar a alfabetização nos Anos Finais

 

É importante criar estratégias que acolham e não causem constrangimento aos alunos.

 

As complexidades da actualidade exigem uma conexão entre leitura e compreensão das informações que circulam nos mais distintos campos da sociedade.

 

Nessa fase de aprendizagem, o aluno também encontra dificuldades ortográficas, embates com a variação de géneros textuais e níveis de linguagem. Alguns deles não conseguem consolidar o processo de alfabetização no período esperado e chegam aos Anos Finais com defasagens que os impedem de avançar nas aprendizagens desta etapa. Eis o nosso desafio: acolher para ensinar com propriedade. 

 

 

 

 

Para entender melhor, não vamos tomar como premissa o conceito isolado de alfabetização, mas contextualizá-lo ao uso consciente da escrita em diferentes dimensões sociais e permitir o uso da língua em contexto real: ler e escrever para além da simples decodificação de signos, mas dentro de um contexto em que a escrita e a leitura façam sentido. Trata-se, enfim, de um direito humano e independe de condições sociais ou económicas. 

 

As complexidades da actualidade exigem uma conexão entre leitura e compreensão das informações que circulam nos mais distintos campos da sociedade, o uso cotidiano de leitura e escrita deve estender espaços não escolares. 

 

Muitos são os nossos desafios. Porém, há estratégias que podem ser adoptadas para ajudar na alfabetização plena dos alunos nos Anos Finais, sem causarmos constrangimentos. 

 

  • Aprendizagem entre pares

Aprender com os pares é uma premissa que pode ser nossa aliada em sala de aula. Começa teu trabalho com as parlendas. Distribua-as em grupos e escolha um aluno que tenha proficiência leitora para fazer a leitura em voz para aqueles que ainda estejam em processo de alfabetização consigam demarcar, pela sonoridade, onde começa e termina cada período. 

 

Por exemplo: “Quem cochicha, o rabo espicha. Quem escuta, o rabo encurta. Quem reclama, o rabo inflama. Quem comenta, o rabo aumenta. Quem implica, o rabo estica.” 

 

Como estão em níveis diferentes de aprendizagem, quem fez a leitura pode marcar as acções, ou seja, os verbos. Ao passo que alunos com maior dificuldade vão estabelecer as relações entre som e fala, fonema e grafema, a fala e a escrita. 

 

Ao final da actividade, o grupo deverá sumarizar o que compreendeu, registar e apresentar para a turma. Caso julgar oportuno, eles podem ilustrar a parlenda estudada.

 

  • História em quadrinhos e autoria

Estar a pensar um pouco mais sobre o valor e a importância da autoria nesse processo de alfabetização, proponho a história em quadrinhos como género de estudo. Elas são inventivas, apresentam textos curtos associados à imagem. Desenhar, inventar personagens, os diálogos são formas de exercitar a criatividade e a imaginação. 

 

Assim, leva gibis para a sala de aula, pede aos alunos para que leiam e façam o reconto para a turma. Indaga sobre: tipos de balões, personagens, recursos gráficos, onomatopeias. Quanto ao enredo, pede para que identifiquem o problema, o obstáculo e a solução que gerou a quebra de expectativa. Quais são os traços de humor percebidos por eles? 

 

Feito isso, é hora de roteirizar os próprios quadrinhos. Explica sobre os balões que podem ser usados, o valor da onomatopeia, o uso das letras maiúsculas, a capacidade de síntese e a importância da sequência das cenas. Os alunos também podem retextualizar enredos de outros autores em forma de quadrinhos. Que tal O toco de lápis, de Pedro Bandeira?

 

Orienta e acompanha os alunos que precisam consolidar o processo de alfabetização. Dá visibilidade a todos e faz uma colectânea com as histórias e para que possam compartilhar as criações. 

 

  • Retrospectiva, memória e produção textual

Aprender pressupõe dar sentido. Construímos saberes quando realizamos um movimento interno que nos permite seleccionar imagens carregadas de valores construídos a partir de vivências e experiências significativas. Assim, que tal resgatar com a turma momentos que, ao longo do ano, foram memoráveis e merecem ser recontados?

 

Primeiramente, pede para que façam seus registos individualmente, assim nenhum aluno se sentirá excluído, até mesmo quem não consegue ainda escrever seu texto sozinho. 

 

O género memória literária pode ser um aliado para partir dos factos para a inventividade criativa. Lembre-se de que estamos a falar de um texto narrativo e que há finalidades específicas na sua constituição, além dos aspectos linguísticos e discursivos. Considera que o texto deverá ser escrito em primeira pessoa e o narrador assume as impressões e sentimentos. 

 

Faz uma construção colectiva e melhora as colaborações trazidas pelos alunos incorpora comparações, expressões que marcam a passagem do tempo e situa o leitor nas lembranças narradas. Utiliza o jogo passado/presente para contrastar as situações vividas e o tempo da enunciação.

 

Depois da primeira versão, reproduz o texto para que os alunos possam ler e inferir correcções sobre a adequação vocabular, pontuação, concordância e outros elementos típicos da estrutura discursiva. Afinal, memórias são flagrantes, registam aquilo que ficou internalizado, não segue por uma lógica cronológica, mas o que passou pela afectividade, afinal, como bem afirmou Fernando Pessoa, “memória é a consciência inserida no tempo”. 

 

Essas são algumas sugestões para ajudar a consolidar a alfabetização de alunos que estão nos Anos Iniciais e nos Anos Finais. Durante todo o processo, lembra que alfabetizar é dar sentido às palavras que circulam ao nosso redor!

 

 

Fontes:

https://www.colegiopoliedro.com.br/blog/existe-idade-certa-para-iniciar-a-alfabetizacao/

https://sophia.com.br/como-melhorar-a-alfabetizacao-na-escola-descubra-nesse-post/

https://novaescola.org.br/conteudo/21975/atividades-para-consolidar-a-alfabetizacao-nos-anos-finais

https://www.educamaisbrasil.com.br/etapa-de-formacao-e-series/ensino-fundamental-i/1-ano-ensino-fundamental-i

Texto adaptado por: Profª Eliane Ap. Zulian Delázari