Abordagens pedagógicas afectivas e efectivas

Postado por inovar 05/03/2021 0 Comentários

 

Abordagens pedagógicas afectivas e efectivas

 

 

 

 

 

 

Hoje, devido a pandemia do coronavírus que assola o mundo inteiro, é comum uma priorização de didácticas focadas na inserção de tecnologias educacionais, a qual nos impede do contacto físico conscientemente e obrigatoriamente. Porém, essa tendência faz sentido em qualquer instituição? Neste momento é o caminho que temos, mas quando tudo isso “voltar ao normal”, escolas retornarão para suas abordagens pedagógicas com mais força e conscientização, não desmerecendo de forma alguma a aprendizagem adquirida.

 

 

A reflexão acerca das estratégias da escola para o favorecimento da relação de ensino-aprendizagem é fundamental para a construção de um saber significativo e, de facto, efectivo.

 


Em um mundo hiperconectado, destacam-se as relações que valorizam o que é humano. Isso não envolve condenar o que é virtual, mas sim em utilizá-lo como um recurso — não como principal meio para o ensino. Uma escola formadora de alunos conscientes, inteligentes e solidários é uma escola que favorece a afectividade.

 

 

Veja algumas abordagens pedagógicas que propiciam a afectividade em meio escolar.

 

 

 

Por que ser afectivo é efectivo?

 

 

Henri Wallon e a Afectividade

 

 

 

Antes de tudo, é importante entender o que é afectividade. Diferentemente do que se entende por convenção, afectividade não é sinônimo de constante adoração. Na verdade, os indivíduos podem ser afectados tanto negativamente quanto positivamente. Ser afectivo, portanto, é compreender que existem sensações boas e ruins e que ambas podem ser utilizadas para favorecer o desenvolvimento do aluno. 
 
 
O francês Henri Wallon, importante nome nos estudos acerca da afectividade e educação, destaca o afecto como um reflexo da interacção, seja do meio externo quanto interno. Além disso, ela evolui com o passar do tempo e resulta de factores corporais e sociais. Ter afectividade em meio escolar envolve relacionar na prática pedagógica:
 
 
Emoção: que envolve o corpo se manifestado e o sistema motor do humano.
Sentimento: relacionado a expressão do afecto de maneira mais psicológica e menos imediata.
Paixão: observada por meio do autocontrole e reflexão das emoções — ligada a um propósito.
 
 
O que acontece em muitas vezes nas escolas é uma separação entre afectividade e inteligência. Tanto a sensibilidade interna quanto a externa são fundamentais para o desenvolvimento humano. As atitudes e as decisões são baseadas no afecto, logo, favorecer somente a formação da inteligência reflecte em ignorar o afecto necessitado pelo aluno. 
 
 
É por meio da afectividade que os estudantes aprendem de modo significativo e contextualizado. Portanto, adoptar acções afectivas e considerá-las na escola é efectivo para formar não apenas alunos que dominem os conteúdos escolares, mas indivíduos curiosos em que as noções de aprendizado estão intimamente ligadas às emoções. Além desse aspecto de conhecimento, o ambiente escolar afectivo prepara os estudantes para a acção cidadã, constituindo uma sociedade mais junta e transformadora.
 
 
Nota-se que toda interacção humana é afectiva, porém, ao afirmar constituir a escola efectiva percebe-se uma maior preocupação com as emoções em ambiente escolar. Uma aula, qualquer que seja, é afectiva, porém o professor, ao se impor enquanto educador afectivo, reconhece o papel das emoções para a aprendizagem e possui destreza para manuseá-las a favor do saber. A escola, portanto, caso almeje pela formação integral dos estudantes, deve priorizar abordagens amplas que valorizam o sentimento.
 
 
 
 
Escola: lugar de pessoas felizes — Humanista
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Carl Rogers, importante nome do Humanismo
 
 
 
Uma abordagem muito difundida, pioneira em colocar o aluno como protagonista, é a Humanista. De acordo com essa noção didáctica, o indivíduo motivado é aquele que melhor aprende.
 
 
 
Há um destaque ao convívio com o outro, às predileções singulares, além de um respeito por parte da instituição quanto ao que o aluno aspira. A partir da consciência autônoma, os alunos atribuem significado às aprendizagens, possuindo liberdade de escolher o que será desenvolvido.
 
 
Um grande diferencial dessa concepção é a motivação: fazer com que as pessoas sejam felizes com seus caminhos. Quando há opção para escolha, o indivíduo convive melhor com seu caminho percorrido, uma vez que não necessita ser nada além do que é pessoalmente ansiado. Por meio do desenvolvimento do senso de autenticidade, o aluno é guiado por seus impulsos singulares, não sentindo necessidade de “ter” o que não faz parte de seu imaginário próprio.
 
 
Interessante destacar que o conhecimento nessa abordagem não é finito. Ele, na verdade, é configurado como dinâmico e em constante alteração, ou seja, nunca é adquirido completamente. A ideia é que a busca por aprender seja o motivador, não a quantidade de saberes acumulados.
 
 
Como é a aula humanista?
 
 
A aula humanista não é centrada na figura do educador. Na verdade, o profissional assume o papel de facilitador da aprendizagem, buscando sempre aceitar e confiar em seus alunos. Já aos estudantes, cabe direccionar sua própria aprendizagem, ou seja, são eles quem pesquisam e definem o que vão aprender.
 
 
Como é a escola humanista?
 
 
Na escola humanista, há um grande respeito ao aluno. O ideal é que a instituição de ensino busque oferecer meios para que o aluno se desenvolva de forma autónoma.
A gestão é democrática, em que todos os envolvidos empenham funções importantes para a manutenção da escola. Tanto alunos e professores quanto coordenador, director, demais funcionários, pais e responsáveis são responsáveis por estabelecer um clima propício para a aprendizagem.
 
 
 
 
 
Foco no desenvolvimento cognitivo — Cognitivista
 
 
 
 
Jean Piaget, precursor do Cognitivismo
 
 
O cognitivismo trouxe muitas contribuições para a educação, principalmente no que diz respeito a como as crianças e os adolescentes aprendem. A idéia dessa abordagem, que tem Jean Piaget como um dos precursores, é destacar em processos cognitivos e na investigação científica.
 
 
Essa abordagem entende a força da interacção e considera seu impacto no processo de ensino-aprendizado. A noção de conhecimento na perspectiva cognitivista leva em consideração a afectividade, uma vez que toda e qualquer actividade humana a envolve. De acordo com estudos piagetianos, há duas fases de aquisição do conhecimento:
 
 
 
Exógena: que envolve cópia e repetição.
Endógena: relacionada à compreensão das relações, das combinações.
 
 
Nesta abordagem, o aluno reinventa o mundo. A autonomia intelectual garante que o aluno aprenda por meio da socialização. Por aprendizagem, tem-se o desenvolvimento da singularidade e de aspectos instrumentais do campo da lógica e do raciocínio.
 
 
Como é a aula cognitivista?
 
 
A aula baseada na abordagem cognitivista está envolvida em princípios de liberdade para o aluno e na priorização do trabalho com conceitos. As actividades mais comuns nessa aula estão ligadas a pesquisa, a investigação e a solução de problemas. O clima de troca de saberes não envolve apenas professor e aluno: alunos colaboram entre si, compartilhando e discutindo aprendizados. O professor deve provocar desequilíbrios e permitir que os alunos “quebrem a cabeça” e “coloquem a mão na massa”, assumindo o papel de orientador da aprendizagem das turmas.
 
 
Como é a escola cognitivista?
 
 
Em suas veias, a escola cognitivista é democrática e flexível às mudanças que podem ser demandadas. Apesar de existir uma noção de liberdade, existem regras definidas por e para todo o grupo de pessoas que compõem a instituição. O ambiente escolar é propício ao desenvolvimento integral, permitindo que os alunos progridam quanto suas várias inteligências (seja motora, verbal e mental). O objectivo envolve a formação integral para que o aluno seja capaz de realizar intervenções na sociedade.
 
 
 
Educar para refletir — Sociocultural
 
 
 
 
Paulo Freire, educação libertadora
 
 

A educação sociocultural leva em conta muito das contribuições de Paulo Freire. Parte de seu ideal liga-se a permitir que a cultura e os processos culturais sejam construídos e modificados pelas pessoas de forma abrangente. Com esse objectivo, a educação é uma forma de conscientização, que representa o motor para a acção humana na transformação de sua realidade. Por conscientização, entende-se a capacidade dos alunos — e de todos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem — para reflectirem de forma crítica. Quando os indivíduos conseguem enxergar os factos de forma consciente, eles são motivados a elaborar propostas de intervenção e alterá-los. Com isso, o conhecimento não é marcado por um fim, mas por seu processo cíclico, visto que as novas realidades produzidas são novamente objecto de reflexão. Por meio da educação, ocorre a transformação de indivíduos em sujeitos. Os sujeitos, possuintes de consciência crítica, possuem poder de escolha, de decisão, aproximando-os da liberdade. Por esse motivo, essa abordagem também é chamada de Libertadora por alguns estudiosos.

 

 

Como é a aula socioculturalista?


A aula libertadora envolve compreender o lugar na sociedade no qual os alunos (e a instituição) estão inseridos. Assim, parte-se do sujeito para a conscientização. O professor, então, questiona os factos juntos do aluno. Nesse processo, é fundamental valorizar a cultura e a linguagem do aluno, aproximando-o do processo de aprendizagem. Toda a didáctica da aula é baseada no diálogo e em seus desdobramentos.

 

 

Como é a escola socioculturalista?


A escola pautada na abordagem libertadora é marcada pela esperança: há nela o desejo por um mundo mais justo e unido. Sendo assim, a instituição permite e incentiva o crescimento tanto dos profissionais da educação quanto dos alunos. Qualquer onda opressora é combatida, visto que o ambiente que oprime é o maior inimigo da liberdade almejada por essa abordagem. As decisões escolares são dadas de modo horizontal, promovendo o diálogo como forma de resolução de entraves e conflitos.

 

 

Há muitas abordagens didácticas, o que permite que as instituições educativas optem por qual será privilegiada na escola. Aqui foram destacadas três abordagens e mostramos como se dá a afectividade nelas. É ideal que as escolas apresentem em seus documentos de apoio práticas da abordagem que melhor transmite a essência da instituição.

 

 

O afecto, quando inserido no desenvolvimento humano, permite que o aluno seja mais autônomo e capaz de resolver problemas de forma efectiva. Essa habilidade de resolução ultrapassa a esfera pessoal e caminha para a social, visto que o estudante que se desenvolve em meio afectivo também age para transformar outras realidades. Interessante destacar que a afectividade, na educação, é uma forma de facilitar a aprendizagem, portanto, é um óptimo princípio para adoptar nas escolas.

 

 

 

 

Referências:

 


ANTUNES, Celso. A afetividade na escola: educando com firmeza. Londrina: Maxiprint, 2006.


LA TAILLE, Yves de; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Heloysa. Piaget Vygotsky Wallon.

Teorias Psicogenéticas em Discussão. São Paulo: Summus, 1992.


MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: As abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.

 


Texto adaptado por: Profª Eliane Ap. Zulian Delázari