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Níveis no Processo de Alfabetização
As pesquisas sobre o processo de alfabetização mostram que, para poder se apropriar do nosso sistema de representação da escrita, a criança precisa construir respostas para duas questões:
O que a escrita representa?
Qual a estrutura do modo de representação da escrita?
A escola considera evidente que a escrita é “um sistema de signos que expressam sons individuais da fala” e supõe que também para a criança isso seja dado a priori.
No início do processo toda criança supõe que a escrita é uma outra forma de desenhar as coisas. No entanto, há um divórcio entre o conhecimento da letra e as hipóteses da criança a respeito da escrita.
Para a criança a escrita deveria conformar-se à sua concepção ainda realística da palavra: coisas grandes têm nomes grandes e coisas pequenas têm nomes pequenos.
A teoria que a criança construiu sobre a escrita a realidade desmente obrigando-a a construir uma nova teoria, novas hipóteses.
Ao começar a se dar conta das características formais da escrita, a criança constrói duas hipóteses que vão acompanhá-la por algum tempo durante o processo de alfabetização.
As hipóteses são as seguintes:
a) de que é preciso um número mínimo de letras (entre duas e quatro) para que esteja escrito alguma coisa;
b) de que é preciso um mínimo de variedade de caracteres para que uma série de letras “sirva para ler”.
Emília Ferreiro e Ana Teberosky definiram cinco níveis no processo de alfabetização que revelam as hipóteses a que chegou a criança. Elas partiram do pressuposto da teoria piagetiana – de que todo conhecimento possui uma origem – e, pelo método clínico de Piaget, observaram 108 crianças e seu funcionamento do sistema de escrita. Elas queriam entender como as crianças se apropriam da cultura escrita, criando a obra intitulada de Psicogênese da Língua Escrita, introduzida no Brasil por volta dos anos 1980. O facto de questionarem e considerarem o que as crianças sabem antes da alfabetização (da entrada na escola) modificou toda a forma de pensar da época, e ainda hoje tais ideias embasam muitos profissionais.
Nível 1 e Nível 2 - Hipótese pré-silábica (fases pictóricas, gráfica primitiva e pré-silábica propriamente dita);
A caracterização de cada nível não é estanque, podendo a criança estar numa determinada hipótese e mesclar conceitos do nível anterior.
Essa “regressão temporária” demonstra que sua hipótese ainda não está adequada a seus conceitos. São momentos do processo que se caracterizam pela evidência de contradições na conduta da criança. Neste caso percebe-se a perda da estabilidade do nível anterior e a não-organização do nível seguinte, evidenciando o conflito cognitivo.
Para detectar o nível de conceitualização da criança, Ferreiro e Teberosky sugerem um ditado individual de quatro palavras e uma frase.
O professor deve utilizar uma palavra polissílaba, uma trissílaba, uma dissílaba e uma monossílaba, respectivamente nesta ordem. A frase deve ser do mesmo campo semântico, ou seja, pertencer ao grupo das palavras que foram escolhidas.
O professor deve evitar ditar o monossílabo em primeiro lugar, porque sua representação é difícil para a criança. Em sua concepção o monossílabo deveria se escrever com uma única letra, mas quando se coloca uma letra só, o escrito “não pode ser lido”, ou seja, não é interpretável (hipótese silábica).
Na sequência, o professor precisa pedir que a criança “leia” o que escreveu a fim de entender como ela “lê”.
Em cada nível, a criança elabora suposições a respeito dos processos de construção da leitura e escrita, baseando-se na compreensão que possui desses processos.
A mudança de um nível para outro só ocorrerá quando a criança se deparar com questões que o nível em que se encontra não puder explicar.
Não encontrando resposta no nível em que se encontra a criança irá elaborar novas suposições e novas questões e assim por diante.
O processo de assimilação de conceitos é gradativo, o que não exclui “idas e vindas” entre os níveis.
Referências:
SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A criança na fase inicial da escrita: a alfabetização como processo discursivo. 12.ed. São Paulo: Cortez, 2008.