Níveis no Processo de Alfabetização

Postado por inovar 08/07/2019 0 Comentários

 

Níveis no Processo de Alfabetização

 

 

As pesquisas sobre o processo de alfabetização mostram que, para poder se apropriar do nosso sistema de representação da escrita, a criança precisa construir respostas para duas questões:

 

 

O que a escrita representa?

 

 

Qual a estrutura do modo de representação da escrita?

 

 

A escola considera evidente que a escrita é “um sistema de signos que expressam sons individuais da fala” e supõe que também para a criança isso seja dado a priori.

 

 

No início do processo toda criança supõe que a escrita é uma outra forma de desenhar as coisas. No entanto, há um divórcio entre o conhecimento da letra e as hipóteses da criança a respeito da escrita.

 

 

Para a criança a escrita deveria conformar-se à sua concepção ainda realística da palavra: coisas grandes têm nomes grandes e coisas pequenas têm nomes pequenos.

 

 

A teoria que a criança construiu sobre a escrita a realidade desmente obrigando-a a construir uma nova teoria, novas hipóteses.

 

 

Ao começar a se dar conta das características formais da escrita, a criança constrói duas hipóteses que vão acompanhá-la por algum tempo durante o processo de alfabetização.

 

 

As hipóteses são as seguintes:

 

 

            a) de que é preciso um número mínimo de letras (entre duas e quatro) para que esteja escrito alguma coisa;

 

 

            b) de que é preciso um mínimo de variedade de caracteres para que uma série de letras “sirva para ler”.

 

                                                                                                                                      

Emília Ferreiro e Ana Teberosky definiram cinco níveis no processo de alfabetização que revelam as hipóteses a que chegou a criança. Elas partiram do pressuposto da teoria piagetiana – de que todo conhecimento possui uma origem – e, pelo método clínico de Piaget, observaram 108 crianças e seu funcionamento do sistema de escrita. Elas queriam entender como as crianças se apropriam da cultura escrita, criando a obra intitulada de Psicogênese da Língua Escrita, introduzida no Brasil por volta dos anos 1980. O facto de questionarem e considerarem o que as crianças sabem antes da alfabetização (da entrada na escola) modificou toda a forma de pensar da época, e ainda hoje tais ideias embasam muitos profissionais.

 

 

Nível 1 e Nível 2 - Hipótese pré-silábica (fases pictóricas, gráfica primitiva e pré-silábica propriamente dita);

 

 

  • Nível 1: A criança tem traços típicos, como linhas e formas semelhantes a emes em letra cursiva. Apenas quem escreveu sabe o que significa. Ainda não se pode distinguir desenho e escrita em seus registos, recorrendo à utilização de desenhos. A escrita deve possuir variedade de caracteres. A quantia de grafias para cada palavra deve ser constante A escrita dos nomes é proporcional à idade ou tamanho da pessoa, do animal ou do objecto a que se refere. Ela escreve boi de forma gigante e formiga de forma mínima.



     
  • Nível 2: Para ler coisas diferentes deve haver diferença na escrita. Fixa-se a quantidade mínima de caracteres para escrever – os caracteres aparecem organizados linearmente nesse nível. A forma dos caracteres está mais próxima das formas das letras e podem aparecer junto com números. A criança passa a adquirir formas fixas de escrita, utilizando letras do seu próprio nome ou letras conhecidas (aron, lido como sapo/ aorn, lido como pato/ raon, lido como casa) como fonte principal para seu registo. Cada letra não possui ainda valor sonoro por si só. Assim, a leitura permanece realizada de modo global. Predomina a escrita em letra de imprensa maiúscula.



    Nível 3 - Hipótese silábica






     
  • Aparece a hipótese silábica – a criança atribui um valor sonoro a cada sílaba das palavras que regista. As crianças relacionam a escrita à fala. Algumas crianças escrevem silabicamente, sem valor sonoro. Começa um conflito entre a hipótese silábica e a quantidade mínima de letras exigidas para que a palavra possa ser lida. Ela utiliza duas formas gráficas para escrever palavras com duas sílabas, o que vai de encontro à ideia inicial de precisar no mínimo de três caracteres.



    Nível 4 - Hipótese silábico-alfabética






     
  • Passagem da hipótese silábica para a alfabética. A criança se aproxima de uma análise de fonema a fonema. Percebe que escrever é representar progressivamente as partes sonoras das palavras.



    Nível 5 - Hipótese alfabética





 

  • A criança desenvolve uma análise fonética, produzindo escritas com hipóteses alfabéticas. Daqui para a frente, as crianças enfrentariam outros desafios, como, por exemplo, a ortografia.


     

A caracterização de cada nível não é estanque, podendo a criança estar numa determinada hipótese e mesclar conceitos do nível anterior.

 

Essa “regressão temporária” demonstra que sua hipótese ainda não está adequada a seus conceitos. São momentos do processo que se caracterizam pela evidência de contradições na conduta da criança. Neste caso percebe-se a perda da estabilidade do nível anterior e a não-organização do nível seguinte, evidenciando o conflito cognitivo.

 

Para detectar o nível de conceitualização da criança, Ferreiro e Teberosky sugerem um ditado individual de quatro palavras e uma frase.

 

O professor deve utilizar uma palavra polissílaba, uma trissílaba, uma dissílaba e uma monossílaba, respectivamente nesta ordem. A frase deve ser do mesmo campo semântico, ou seja, pertencer ao grupo das palavras que foram escolhidas.

 

O professor deve evitar ditar o monossílabo em primeiro lugar, porque sua representação é difícil para a criança. Em sua concepção o monossílabo deveria se escrever com uma única letra, mas quando se coloca uma letra só, o escrito “não pode ser lido”, ou seja, não é interpretável (hipótese silábica).

 

Na sequência, o professor precisa pedir que a criança “leia” o que escreveu a fim de entender como ela “lê”.

 

Em cada nível, a criança elabora suposições a respeito dos processos de construção da leitura e escrita, baseando-se na compreensão que possui desses processos.

 

A mudança de um nível para outro só ocorrerá quando a criança se deparar com questões que o nível em que se encontra não puder explicar.

 

Não encontrando resposta no nível em que se encontra a criança irá elaborar novas suposições e novas questões e assim por diante.

 

O processo de assimilação de conceitos é gradativo, o que não exclui “idas e vindas” entre os níveis.
 

 

 

Referências:

BARBOSA, Priscila Maria Romero. Emília Ferreiro, Ana Teberosky e a gênese da língua escrita. Educação Pública. 9 de junho de 2015. Disponível em: <https://educacaopublica.cederj.edu.br/artigos/15/11/emilia-ferreiro-ana-teberosky-e-a-gnese-da-lngua-escrita> Acesso em: 05 de julho de 2019.
CURTO, Lluís Maruny; MORILLO, Maribel Ministral; TEIXIDÓ, Manuel Miralles. Escrever e Ler: como as crianças aprendem e como o professor pode ensiná-las a escrever e ler. Trad. Ernani Rosa, Porto Alegre: Artmed, 2000. V.I; II.

 

SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A criança na fase inicial da escrita: a alfabetização como processo discursivo. 12.ed. São Paulo: Cortez, 2008.